Posto, na íntegra, o artigo que foi apresentado no KM Brasil 2012. Sobre a importância da educação para o desenvolvimento. É o que encontramos em alguns de nossos municípios. Fabriquetas sem nenhuma noção de qualidade, segurança, competitividade ou sustentabilidade e com pessoas que lá trabalham analfabetas ou semi analfabetas. Podemos encontrar o índice de desemprego próximo a "0%", mas os profissionais carentes de educação, a cidade sem estrutura e as instituições de ensino sem articulação com as empresas. Que polo industrial pode ser esse? Quanto tempo permanecerá dessa forma? Configura-se polo industrial ou amontoado de micro/pequenas empresas? Empresas essas que tentam, com grande sacrifício, manterem-se vivas no mercado. A educação é a base de tudo, sem ela não poderá haver sustentabilidade no desenvolvimento.
Carmen Lúcia Couto Fonseca
Marlene Franklin Cordeiro
Este trabalho procura demonstrar, que a educação é um pilar imprescindível no
processo de desenvolvimento, construído a partir de uma perspectiva de justiça
social. Para isso, o conceito de desenvolvimento vai além da visão estritamente
econômica, estando ligado a ideia, que a educação possui, de desenvolvimento
humano, social e econômico, e das oportunidades geradas pelo país aos cidadãos.
Salienta-se nesta pesquisa, as especificidades da aglomeração produtiva, em Santa
Cruz do Capibaribe e sua capacidade local de impulsionar a sobrevivência, por
meio de uma atividade urbana, que promove a concentração espacial, com
especialização no setor de confecção, cuja
localização, aglutina vantagens de externalidades, que propiciam condições
de competitividade e expansão produtiva a àquele município. Utilizou-se a
classificação de pesquisa, quanto aos Fins: Exploratória e Descritiva, por
expor características de determinados fenômenos correlatos entre as variáveis
da pesquisa, leituras, entrevistas e visita ao local. Concluiu-se que a
educação como fator para inclusão social e formadora do desenvolvimento local
sustentável é imprescindível.
Palavras–Chave: Educação.
Qualificação. Cidadania. Desenvolvimento.
Introdução
O desenvolvimento moderno necessita cada
vez mais de pessoas informadas sobre a realidade onde vivem e trabalham.
Pessoas desinformadas não participam, e sem participação não há
desenvolvimento. Uma nova visão está entrando rapidamente no universo da educação,
de que, além do currículo tradicional, os alunos devem conhecer e compreender a
realidade onde vivem e onde serão chamados a participarem como cidadãos e como
profissionais.
Na sociedade do conhecimento, a
informação e o conhecimento constituem o seu principal ativo intangível e
gerador de riquezas. Neste contexto, a educação e o aprendizado, são fatores
importantes para a redução de assimetrias sociais e como forças estimuladoras
do desenvolvimento econômico.
A relação entre educação e desenvolvimento é estudada por órgãos nacionais como o IPEA e instituições vinculadas às Nações Unidas, como CEPAL, UNESCO e UNICEF. Porém alertam para os ruscos de não se investir na educação, como condição para deter o aumento das desigualdades e o avanço da pobreza. Kliksber (2001) demonstra este fato analisando a situação da América Latina, onde a brecha de escolaridade entre os 10% mais ricos e os 30% mais pobres é de pelo menos sete anos de estudo.
No Brasil, por exemplo, apesar de ter-se melhorado os indicadores de acesso à escola, ainda amarga-se com indicadores que denunciam uma escola pública que mantém com dificuldade seu aluno. Pois não consegue promover um conhecimento de qualidade e assim coloca-o à margem de melhores possibilidades de renda e do exercício de uma cidadania plena, que no seu conceito atual, pode ser resumido como o direito a ter direitos.
A relação entre educação e desenvolvimento é estudada por órgãos nacionais como o IPEA e instituições vinculadas às Nações Unidas, como CEPAL, UNESCO e UNICEF. Porém alertam para os ruscos de não se investir na educação, como condição para deter o aumento das desigualdades e o avanço da pobreza. Kliksber (2001) demonstra este fato analisando a situação da América Latina, onde a brecha de escolaridade entre os 10% mais ricos e os 30% mais pobres é de pelo menos sete anos de estudo.
No Brasil, por exemplo, apesar de ter-se melhorado os indicadores de acesso à escola, ainda amarga-se com indicadores que denunciam uma escola pública que mantém com dificuldade seu aluno. Pois não consegue promover um conhecimento de qualidade e assim coloca-o à margem de melhores possibilidades de renda e do exercício de uma cidadania plena, que no seu conceito atual, pode ser resumido como o direito a ter direitos.
Acresce-se
a isso a importância da educação quando se consideram as alternativas de busca
de oportunidades de trabalho e renda nas estratégias de desenvolvimento local
sustentável, empreendidas por diversos atores institucionais por este país.
Pode-se
dizer, que se está diante de um processo de desenvolvimento local sustentável,
quando houver um processo de aproveitamento dos recursos e riquezas de um
determinado local ou região, os quais possam ser valorizados e transformados
pelo efetivo envolvimento da comunidade, resultando na melhoria da qualidade de
vida da população, por meio da geração de emprego, renda e acesso à saúde e
educação.
Promover
o desenvolvimento econômico local não significa voltar às costas para os
processos mais amplos, significa utilizar as diversas dimensões territoriais
segundo os interesses da comunidade. Vale ressaltar que o “local”, aqui
mencionado, não dimensiona localidade e sim espacialidade, territorialidade.
Assim,
pensando na exclusão social que existe no Brasil e na clareza de que a
construção da cidadania, o desenvolvimento do capital humano e social, a tão
desejada inclusão social, não se restringe apenas ao local, vai mais além, numa
prospecção de mundo, desenvolveu-se este estudo sobre o processo da educação
para a civilização, como instrumento de desenvolvimento da consciência crítica,
que favorece o protagonismo da população para um desenvolvimento sustentável.
Abordou-se nessa
análise a relação entre a desigualdade de renda e os indicadores educacionais,
partindo da compreensão de que o Brasil é um dos países que apresenta maior
disparidade econômica entre os segmentos populacionais. A análise de alguns
indicadores educacionais revela a relação existente entre as condições
econômicas da população e os níveis educacionais dos diferentes segmentos
sociais.
Sendo
assim com esse estudo de caso pretendeu-se identificar alguns dos desafios e
também potencialidades da educação, como principal fator na promoção do
desenvolvimento sustentável, tomando-se como foco de estido o município de
Santa Cruz do Capibaribe em Pernambuco.
A experiência de
Santa Cruz do Capibaribe é interessante e vale a pena ser estudada, porque este município
apresentava um perfil agrícola, com condições de trabalho desfavoráveis, pelas
dificuldades de ordem climática e falta de incentivos do governo, para o
pequeno produtor rural. Porém era observada a melhoria de renda do município
onde se desenvolvia o trabalho de confecção. Com esse novo segmento, houve a
adesão da população às atividades urbanas naquela localidade. A escolha de Santa Cruz foi motivada pela questão do acentuado
desenvolvimento econômico que tem acontecido ao longo dos anos. Assim
investigou-se, qual tem sido a influência das políticas públicas, principalmente
a educação, para que não se configure o desenvolvimento apenas econômico, mas o
desenvolvimento social com sustentabilidade.
Para isto, dados e informações iniciais foram coletadas, para um
primeiro contato com o objeto da pesquisa empreendida, de identificação e
prospecção de estratégias para o desenvolvimento socioeconômico local, que
serão abordados neste artigo.
No
caso do município supracitado as informações foram obtidas por vários meios,
inclusive por comentários feitos por Willami Feitosa em artigo publicado na
Conjuntura Política e Social (dez. 2009). Pode-se perceber o notório crescimento econômico, ocorrido nos últimos 20 anos, nas cidades
que fazem parte do Pólo de Confecções do Agreste (Santa Cruz do Capibaribe,
Toritama e Caruaru). Fruto do processo de produção de confecção, no passado, de
forma artesanal e, hoje, com o uso de tecnologias industriais, como o corte
computadorizado, entre outros.
Durante esses anos, houve adaptações no
meio social e comercial. Com a construção de centros comerciais como o Parque
de Feira, em Toritama, o Parque 18 de Maio, em Caruaru e o Moda Center, em
Santa Cruz. A região consolidou, de vez, seu papel de grande produtora de
confecção do país e da América Latina.
Já que existe um fator que deve ser levado
em consideração que é a diferença entre crescimento e desenvolvimento. No
crescimento ocorre o aumento da riqueza, já no desenvolvimento ocorre o aumento
da riqueza atrelada a uma melhor qualidade de vida, no que se refere à
educação, saúde, lazer e segurança,
entre outros.
Então, qual seria, na verdade, o
caminho a ser traçado em busca do desenvolvimento? Que mecanismos e
instrumentos poderiam contribuir para proporcionar melhores condições de vida a
esta cidade, foco do nosso estudo?
Para
o desenvolvimento deste trabalho, procurou-se direcionar a pesquisa com
questões que se interligam, tais como: Se a educação tem papel estratégico e
fundamental no desenvolvimento, o que falta para que permaneçam os índices
insatisfatórios, para que o desenvolvimento sustentável venha a de fato
ocorrer? Por que a educação, uma política social transversal, que perpassa
todas as demais, não tem conseguido minimizar as disparidades regionais? O que
realmente falta para que “as coisas” de fato aconteçam?
Questões
de problematização, como as acima apresentadas, foram objeto de estudo e
verificação ao longo da pesquisa qualitativa. Pretendeu-se contribuir
reflexivamente na proposição de instrumentos, mecanismos e, quiçá, novos
paradigmas educacionais, no processo de construção de uma nova sociedade.
Como
objetivo procurou-se identificar desafios e potencialidades, que demonstrassem
a função social da educação, como fator preponderante no desenvolvimento
sustentável, tendo como referência empírica, o APL de Santa Cruz do Capibaribe,
no agreste pernambucano.
Para respondermos às questões enunciadas
neste trabalho, foi utilizado o método qualitativo com o apoio de dados
quantitativos baseados em estatística descritiva.
Utilizou-se a
classificação de pesquisa, quanto aos Fins: Exploratória e Descritiva,
por expor características de determinados fenômenos correlatos entre as
variáveis da pesquisa. Explicativa porque explica relações causais entre
indicadores selecionados e analisa os diversos fenômenos que compõem o objeto.
Também quanto aos Meios: utilizou-se o Método Dedutivo, de pesquisa
bibliográfico-documental, investigando documentos conservados nos órgãos
públicos e privados de qualquer natureza e o estudo sistematizado com base em
publicações, redes eletrônicas, de fontes primárias ou secundárias. E ainda o Estudo
de Caso por estar restrito a uma comunidade.
Foram, ainda, realizadas
visitas ao município e feitas entrevistas em alguns órgãos, instituições e
empresas, com profissionais da área de educação, representantes de empresas,
lideranças locais e alunos, cujas abordagens foram de grande importância para
este trabalho. Por fim, a bibliografia pesquisada forneceu elementos e
conceitos fundamentais, e, indicadores para alcançar os resultados propostos.
A seguir serão descritos os
referenciais que embasaram a pesquisa, um breve histórico do município, a
análise dos dados e as considerações finais.
1
Fundamentação
As sociedades modernas têm sofrido transformações profundas
e são desafiadas a concepções e práticas de uma Educação para a Cidadania.
Porém, o que se tem visto é o declínio
crescente do modelo educativo, que não
está vinculado a uma política de preparar o cidadão face ao Estado. Em seu
lugar cresce um modelo de educação que encara o cidadão como um agente social,
com um conjunto de competências cognitivas, éticas e de ação que o capacite a
ter melhoria da qualidade dos contextos sociais onde vive e trabalha.
Um novo tipo de cultura educativa e de formação para a cidadania
requer que se entrelace o formal e o
informal, os referenciais teóricos e a vida concreta, a escolaridade
obrigatória e a educação ao longo da vida. Inclusive a reformulação dos
currículos, para que possam contribuir com a problematização da educação para a
cidadania, enquanto domínio de pensamento e ação susceptível à participação
ativa dos estudantes cidadãos, no espaço público.
Considerar os cidadãos como autores sociais e sujeitos de direitos,
significa assegurar a eles uma educação de qualidade.
A desigualdade social é elemento cada vez mais presente no cotidiano das
grandes cidades brasileiras. Este fenômeno tem se caracterizado como marca dos
grandes centros urbanos, que são capazes de congregar, em uma mesma localidade,
diferentes grupos sociais com interesses econômicos, políticos e sociais
antagônicos.
Dado o contexto de
exclusão/inclusão social analisa-se a importância que a Educação assume neste
processo. A escolarização e o analfabetismo configuram-se como índices de
desenvolvimento humano de grande importância e a atuação em escolas públicas
instigou a refletir sobre a desigualdade social, seu impacto no sistema
educacional e sobre alguns desafios inerentes à prática pedagógica com vistas à
superação deste quadro.
Os dados mais recentes contidos no Mapa
de Analfabetismo do Brasil, atualizado em 29/04/2011, no Portal do conhecimento
– web estudante, retratam a grave situação brasileira, quando informam que
existem no Brasil 9,7% (cerca de 14,1 milhões) de analfabetos absolutos, com 15 anos
ou mais diz o censo de 2010 e 20,3% (cerca de 28,9 milhões) de analfabetos
funcionais. O nordeste
brasileiro tem a maior taxa de analfabetismo do País, 18,7% de analfabetos
absolutos, o que corresponde a quase 50% do total do País, e 30,8% funcionais, com um contingente de
mais de 38,9 milhões de analfabetos funcionais.
Na avaliação do PISA, a educação brasileira ficou em posição bastante
incômoda e altamente preocupante.
No último ranking, com os resultados da avaliação de 2006, o Brasil
ocupou o 49º lugar (entre 56 países) em Leitura; 54º lugar em Matemática (entre
57 países); e 52º lugar em Ciências, dentre todos os participantes, uma das
piores classificações da lista.
Quanto à tecnologia, nos países
desenvolvidos as empresas privadas costumam participar com 30% nos gastos
totais de pesquisa e desenvolvimento. Nas empresas brasileiras, apesar da
tendência de aumento da inovação, a comparação internacional coloca o Brasil
como uma nação em estágio intermediário de desenvolvimento tecnológico e com
avanços mais lentos do que os verificados em países desenvolvidos e demais em
desenvolvimento.
Este cenário comprometedor enfraquece os elos
que deveriam fortalecer a participação dos cidadãos na sociedade. Nesse
sentido, um verdadeiro desenvolvimento sustentável deve contemplar a
diversidade e alteridade cósmica, ou seja, os avanços e transformações que
acontece no mundo.
Investir no desenvolvimento sustentável é
investir na educação, na pessoa do entendimento, da consciência crítica, no
protagonista do presente e do futuro, pois liberto, libertará. Somente assim,
pode-se afirmar a legitimidade no desenvolvimento, de forma mais consciente e
democrática, sensíveis à diversidade e ao direito de representação das pessoas,
como verdadeiros cidadãos críticos e autônomos, competitivos, pois a educação pressupõe todos estes atributos.
Observa-se como em Amartya Sen (2000), houve a introdução de
outros valores para se corrigirem os desvios provocados pelos modelos
econômicos reféns do capital. A própria criação do IDH leva em conta, não
apenas a riqueza produzida pela avaliação do PIB, mas, também, aspectos de
saúde – traduzidos na consideração da taxa de mortalidade infantil – e educação
– considerados pela taxa de analfabetismo. Passou-se, assim, a um conceito de
desenvolvimento que considerava
questões de cunho social.
As taxas de analfabetismo revelam pronunciadas
desigualdades entre as regiões e também em relação às características
socioeconômicas da população. Em 2006, a taxa média brasileira era de 10,4%,
porém, no Nordeste, 20,7% da população era analfabeta, enquanto no Sul, a
proporção era de 5,7%. Ou seja, o Nordeste apresentava uma taxa de
analfabetismo quase quatro vezes maior que a da Região Sul. A incidência do
analfabetismo é 11 vezes maior no quinto mais pobre da população, em comparação
com o quinto mais rico.
Várias causas incidem para os resultados acima mencionados, das quais se
destacam as limitadas oportunidades de acesso a cursos de alfabetização, as
deficiências da qualidade de ensino, a descontinuidade no processo de
escolarização, entre outros que afetam o desempenho educacional. Enfatiza-se,
entre essas causas, o mau desempenho no ensino fundamental, abandonado por
muitos ainda em situação de analfabetismo.
Para que ocorra essa transformação no modelo
econômico, ou para garantir essa característica de sustentabilidade, a educação
desempenha um papel fundamental em todas as camadas da população, quer seja
esta classificada por faixa etária, nível econômico ou outro critério.
Observa-se
que a educação exerce papel fundamental no processo de crescimento econômico
sustentável, pois ela é a base para a formação do capital humano que gera novas
ideias e que é a essência da pesquisa e do desenvolvimento. Por meio dos incentivos de mercado e do
direito de propriedade, a pesquisa e o desenvolvimento tornam-se a força motriz
do progresso tecnológico, gerando o crescimento endógeno.
No mercado
de trabalho, o conhecimento adquirido com a educação pode tornar o indivíduo
mais produtivo e, portanto, maior produtividade se reverte em maior renda
obtida no trabalho. Além disso, a educação também influencia o comportamento
dos indivíduos na busca por emprego, onde trabalhadores mais qualificados
tornam-se mais seletivos quanto às ofertas de emprego.
Quanto à
condição social, a educação é o principal caminho para a redução das
disparidades de renda e pobreza. Desta forma, é necessário que as políticas
públicas foquem os gastos e aumentem o acesso das famílias mais pobres à
educação de qualidade, aumentem a escolaridade média da população reduzindo a
disparidade educacional e de renda, que, consequentemente, reduzirá o índice de
pobreza.
As
transformações em curso na sociedade brasileira, decorrentes das mudanças
técnico-organizacionais no mundo do trabalho, estão fazendo ressurgir, com
muita ênfase, debates relativos a temas e problemas que nos remetem às relações
entre trabalho, qualificação e educação.
Atualmente, está-se passando por momentos
singulares na história, em que grandes transformações ocorrem, trazendo novos
valores e levando embora antigas crenças. Todos têm que reaprender, até os que
estiverem mais desenvolvidos. Muitos consideram essa situação como uma ameaça.
Mas outros veem nisso uma oportunidade. Hoje, o recurso do conhecimento passa a
ser essencial, pois a máquina substitui a força física humana na produção e a
atividade econômica é centrada na prestação de serviços baseados no
conhecimento dos que o possuem. A localização dos demais recursos não é mais
fator determinante para a concentração de riqueza, pois o uso da tecnologia,
das comunicações e dos transportes veio possibilitar a globalização da economia
(FONSECA, 2004).
Drucker
(1993, p. xvi) define essa nova sociedade como Sociedade Pós-Capitalista, em
que o meio de produção básico não seria mais o capital, nem os recursos
naturais, nem a mão de obra. É o conhecimento. O autor afirma que hoje o valor
é criado pela produtividade e pela inovação, que são aplicações do conhecimento
ao trabalho.
Nessa
nova era, onde os ativos, ditos tangíveis, passam a ter menor valor que a
capacidade intelectual e de serviços das pessoas, ou organizações,
caracterizando o que se passa a conceber como ativos intangíveis.
Neste
sentido, muitos autores afirmam que o conhecimento é fonte de poder, é a chave
para futuras mudanças de poder, que coloca indivíduos, organizações e governos
como fatores de inestimável importância, no sentido de liderar estratégias de
desenvolvimento focado em mundo global, com uma visão de futuro capaz de
agregar valores aos novos produtos e serviços que assegurem o crescimento
sustentável da população.
Atualmente,
as principais economias do mundo estão baseadas no conhecimento, que
representa, sem dúvida, a principal fonte de riqueza. Na sociedade globalizada em que avança o novo paradigma, a emergência de
novas forças de exclusão se dá, tanto em nível local quanto global, e requer
esforços em ambos os níveis, no sentido de superá-las. Ações fundamentais,
nessa direção, são as que promovem o acesso universal, tanto à infraestrutura
quanto aos serviços de informação a preços acessíveis.
No campo educacional dos países em desenvolvimento, decisões sobre
investimentos para a incorporação da informática e da telemática, implicam,
também, em riscos e desafios. Será essencial identificar o papel que essas
novas tecnologias podem desempenhar no processo de desenvolvimento educacional
e, isso posto, resolver como utilizá-las de forma a facilitar uma efetiva
aceleração do processo, em direção a educação para todos, ao longo da vida, com
qualidade e garantia de diversidade.
A evolução
que se observa do ponto de vista econômico, social, político e cultural,
corresponde a um mundo totalmente diferente as novas
tecnologias de informação e comunicação tornam-se, hoje, parte de um vasto
instrumental, historicamente mobilizado, para a educação e aprendizagem. Cabe a
cada sociedade decidir que composição do conjunto de tecnologias educacionais
deseja mobilizar para atingir suas
metas de desenvolvimento.
É preciso reintroduzir o papel do sujeito no conhecimento e na
sociedade. Não se pode pensar a sociedade reduzindo-a aos indivíduos ou à
totalidade social, a dialógica entre
indivíduo e sociedade deve ser pensada num mesmo espaço. O sujeito não reflete
a realidade, ele constrói a realidade por meio de vários princípios, entre
eles, o dialógico.
Desenvolver o processo educacional propõe estratégias e
princípios gerativos como ferramentas que facilitam o desenvolvimento de
estratégias para o conhecimento, como também o desenvolvimento das estratégias
de ação.
Observa-se uma crescente participação do conhecimento na
atividade econômica, o que apresenta o conhecimento como o quarto fator de
produção de cadeias alicerçadas no próprio conhecimento que dão sustentação aos
sistemas produtivos.
Embora a questão do conhecimento relacionado à economia
tenha adentrado mais recentemente os círculos acadêmicos, públicos e políticos,
não se pode conceber este fato como uma novidade, pois o conhecimento sempre
constituiu um ponto central na existência humana e sempre desempenhou papel
vital em todas as fases do desenvolvimento histórico de qualquer sociedade.
Os debates epistemológicos em torno do termo conhecimento
costumam girar sobre significados, formas e reivindicações de conhecimento e,
no decorrer dos mesmos, várias duplas de alternativas disputam a supremacia,
tais como conhecimento científico ou
comum; conhecimento acadêmico ou social; explícito ou codificado e implícito ou
tácito; refletivo ou experiencial; teórico ou prático; construtivista ou objetivista.
Para a percepção
no que se refere ao processo educacional, este elemento dinâmico da chamada
nova economia, não trata simplesmente da informação ou do conhecimento
codificado, mas daquele conhecimento tácito, que não se separa do sujeito e que
depende de um complexo processo de aprendizagem, envolvendo a mobilização da
sociedade para o desenvolvimento local.
Como
consequência, espera-se que, a médio e longo prazo, quer seja pela formação de
trabalhadores qualificados, que podem ser empregados na região, quer pela
expansão de conhecimento gerado por instituições, como no caso em estudo, as
Faculdades de Santa Cruz do Capibaribe, venham
beneficiar as empresas locais e, também, toda a Região do Agreste.
Ressalta-se, porém, que a internalização dessas externalidades, por parte das
empresas, dependerá do nível de interação estabelecido entre as empresas e a
Universidade.
Exige-se dos indivíduos novas competências para
seleção e administração das informações, tendo em vista a produção e os novos
conhecimentos. É necessário desafiar empresas e trabalhadores a adquirirem a
informação e a competência para transformar a informação em um recurso
econômico estratégico, ou seja, no conhecimento.
As antigas profissões desaparecem e as
que permanecem, mesmo as mais tradicionais e conhecidas, têm seu perfil
modificado, exigindo novas habilidades e conhecimentos. A revolução tecnológica
obriga o trabalhador a utilizar cada vez mais o seu raciocínio e sua
criatividade. Por esta e outras razões, o analfabetismo e o analfabetismo
funcional precisam ser erradicados, pois representam os principais entraves
sociais para a inserção do indivíduo na sociedade moderna, uma vez que retiram
praticamente todas as possibilidades de participação e transformação social. O
acesso à educação possibilitará uma formação ampla, baseada nos valores
humanos, na visão crítica do mundo e do seu papel de cidadão.
Alguns empresários já perceberam que o baixo nível
de escolaridade caracteriza um obstáculo para as empresas, pois influi no modo
como o trabalhador se apropria das
informações, constrói seus conhecimentos e os aplica em suas atividades.
Os cenários complexos
que se nos apresentam às incertezas,
imprevisibilidades e contradições da existência, exigem novas maneiras
de reaprender. Muitas vezes precisamos desaprender conceitos fechados e
obsoletos que, algum dia aprendemos e reservarmos nas prateleiras da
consciência, para aprendermos as novas possibilidades dos novos cenários que
delineiam e redesenham o mundo moderno.
Compreender
este contexto é o principal desafio da educação e primordial fator para alcançar o desenvolvimento e,
ainda, capaz de despertar uma sociedade-mundo. Não é possível saber o futuro
preciso, não está escrito em nenhum lugar, mas, com certeza, ele será o que se
fizer dele, o que se conseguir construir.
2 Santa Cruz do Capibaribe
2.1 Retrospectiva Histórica e Conjuntural
O município
de Santa Cruz do Capibaribe, localizado no Agreste Setentrional do Estado de
Pernambuco, na microrregião do alto Capibaribe, ver mapa 1 adiante, distante da
capital a 187,8 Km, em 1892 integrava o território do município de Taquaritinga
do Norte, denominado nesta época apenas de Santa Cruz pequeno povoado, banhado
na margem esquerda pelo Rio Capibaribe. Já contava nesta época com uma das
maiores feiras de rua dentre lugares de tamanho similar.
Os
primeiros sinais da organização do aglomerado de confecções em Santa Cruz, à
época ainda distrito de Taquaritinga do Norte, apontam para o final da década
de quarenta. As condições materiais do local não pareciam diferir das demais
regiões do agreste pernambucano.
A
área do semiárido tinha, de um lado, a seca, como fenômeno recorrente com um
grande contingente de mão-de-obra excedente e carente de rendas; de outro, um
aprendizado doméstico em confecções e a falta de investimentos.
Da história dos primórdios até o presente
observa-se a existência de milhares de médios, micro e pequenos produtores,
existindo em Santa Cruz do Capibaribe, aproximadamente 13.000 empresas segundo informação da ASCAP
– 2011.
Mapa
1 - Microrregião do alto Capibaribe
Em 29 de
dezembro de 1953, tornou-se autônomo pela Lei nº 1.818, assinada e sancionada,
pelo então governador do Estado de Pernambuco, Etelvino Lins de Albuquerque, e
incorporou o nome do rio, que o banhava, passando a denominar-se Santa Cruz do
Capibaribe.
Santa Cruz
do Capibaribe está situado nos 70% do território nordestino que abriga o
semiárido, na mesorregião do agreste pernambucano e microrregião do Alto do Capibaribe,
enfrentou sempre grandes problemas com a falta de água. Possui um relevo
suavemente ondulado, solo argiloso, arenoso, pedregoso e rochoso, com uma
vegetação de caatinga hipoxerófila. Apesar disso, a população encontrava na
agricultura de subsistência e na criação de pequenos rebanhos, as principais
fontes de ocupação e renda, mesmo numa
região adversa a essas práticas 2.
Em alguns
períodos de sua história explorou atividades como a produção de algodão, de
calçados e carvão vegetal. No
entanto, a população local teve sempre uma vocação para comercializar em feiras
livres existentes no interior, onde era comum a troca de roupas por
mercadorias, sem depender da interveniência da moeda. (BEZERRA, 2004).
Santa Cruz
do Capibaribe deixou de priorizar a agropecuária de subsistência, numa região
naturalmente adversa a essas práticas, e, passou a canalizar esforços no
trabalho com retalhos, tecidos, e particularmente, confecção de roupas.
Na fase
inicial do trabalho eram utilizados retalhos de tecidos. Na verdade
aproveitavam-se as sobras e as pequenas tiras de tecidos - que a princípio não
tinham utilidade nas fábricas – para
emendar uma nas outras, fazendo assim, os primeiros, de muitos produtos de tecidos, fabricados no
município.
2.2
Alicerces
do desenvolvimento e mecanismos de superação
Nos últimos vinte anos,
Santa Cruz do Capibaribe teve um crescimento relevante em vários aspectos
políticos, sociais e econômicos. Sua população que era de 59.048 habitantes (Censo IBGE 2000), hoje apresenta uma
população de 87.538 habitantes e seus indicadores sociais também tiveram
avanços significativos. A tabela 1, mostra
a significativa evolução da
população em apenas dez (10) anos.
Tabela 1 - Evolução da população
ANO
|
1991
|
1996
|
2000
|
2007
|
2009
|
2010
|
POPULAÇÃO
|
38.332
|
46.969
|
59.048
|
77.680
|
80.330
|
87.538
|
Fonte:
BDE/IBGE (acesso em fevereiro de 2011)
O dinamismo de sua economia
gerou grande crescimento populacional, Santa Cruz do Capibaribe transformou-se
no maior parque de venda de confecções da América Latina (www.senai.br)
(acesso em abril de 2011). Ainda, segundo o IBGE (2007), foi a cidade que mais
cresceu no estado de Pernambuco nos últimos dez anos.
Enfim, é
aguçada a curiosidade de saber que estratégias, mecanismos e instrumentos
pode-se dimensionar como forças propulsoras que contribuíram para o crescimento
daquela localidade. Destaca-se alguns eventos que, sem dúvida, alavancaram o processo
de desenvolvimento local.
Entre
outros, tem-se o fato de que Santa Cruz foi pioneira na exploração de um tipo
de atividade produtiva no Nordeste, pois os santa-cruzenses foram os primeiros
à trabalharem com sobras de tecidos e retalhos, para a fabricação artesanal de
roupas. Um caso típico de empreendedorismo, um exemplo de sucesso desenvolvido
por micro e pequenos produtores em plena região semiárida.
Outro
aspecto é que, desde 1950, quando teve início o processo de criação e
estruturação da atividade confeccionista do município, a base foi o
conhecimento acumulado durante o curso da evolução dessa atividade, que se deu
de forma puramente empírica.
Ou seja,
foi dos conhecimentos acumulados e da experiência prática nas diversas tarefas,
ocupações e situações, que surgiu a necessidade de tornar o processo produtivo,
comercial e rentável financeiramente.
Percebe-se,
ainda, que, a partir de 1990, um pequeno grupo, porém expressivo, de
confeccionistas do município, resolveu buscar ações direcionadas à modernização do setor, visando a
estruturação das organizações e a enfrentar
e superar os momentos de crise e incertezas da economia brasileira da
época, com planos econômicos confusos e sem um rumo definido (BEZERRA 2004).
Entre as
principais ações dos confeccionistas santa-cruzenses, destacam-se: a
participação em feiras de matéria prima e maquinário têxtil e do vestuário,
para obter conhecimento técnico, de novos mercados e, principalmente, conhecer
melhor a concorrência, além das novidades desses setores; as consultorias
empresariais; a racionalização do processo produtivo e os cursos para
implantação de programas de qualidade total. ( BEZERRA 2004).
O resultado
desse importante processo de evolução da atividade confeccionista com base no
conhecimento, que teve início em 1990, ficou bastante evidente em 2000, quando
empresas sediadas em Santa Cruz venceram, por quatro anos consecutivos, o
prêmio Destaque Empresarial Estadual, oferecido pelo Sebrae e pelo grupo
Gerdau. (BEZERRA 2004).
As empresas
vencedoras foram Rota do Mar (2000 e 2001), Michelle Moda Intima (2002) e
Confecções Yanomami (2003), (BEZERRA, 2004). Um fato importante é que essas
três empresas têm sua origem alicerçada na microempresa familiar. Lamenta-se
que apenas uma minoria procurou esse processo de evolução para o
desenvolvimento de suas empresas.
No período
entre 1992 e1993, começaram também a participar instituições de classe, como a
ASCAP e a CDL, com atividades para melhoria do desempenho dos empresários
locais.
2.3 Aspectos conjunturais
de Santa Cruz no desenvolvimento local
Santa Cruz do Capibaribe, além de uma cidade pólo é a
maior produtora de confecções de Pernambuco e, segundo informações do Senai, é
a 2º maior produtora de confecções do
Brasil, possuí o maior parque de confecções da América Latina em sua categoria.
O município possui, além dos estabelecimentos de
indústria e comercio, o Moda Center Santa Cruz, que agrega milhares de lojas e
é um espaço de grande dimensão, dividido em ruas identificadas por letras e áreas
de lojas por cores.
O Moda
Center Santa Cruz, tem movimento diário intenso, atendendo a compradores vindos
de todo Brasil. Em quase todos os boxes por onde se passa, é possível ver-se
clientes realizando compras, fazendo a economia da Capital da Confecção,
circular.
Enquanto o
desemprego assola outras cidades brasileiras, Santa Cruz do Capibaribe tem taxa
de desemprego quase zero, conforme dados obtidos por meio do site da CDL de
Santa Cruz do Capibaribe, (http://blogdacdlscc.blogspot.com/, atualizado em fevereiro de 2011
e acessado pela Internet em 27 de junho
de 2011).
Por outro lado, o número de empregados no setor
formal é de 8.755 pessoas (IBGE/BDE,2009). Analisando–se a quantidade de
estabelecimentos (12 mil), percebe-se que o trabalho informal predomina,
estima-se que 60% ou mais, dos
empregados, estejam à margem do mercado formal.
Estes desafios são reais, imediatos e futuros, para a
afirmação de Santa Cruz como cidade pólo dessa microrregião. O crescimento
econômico produziu grande imigração de pessoas em busca de renda para
sobrevivência, o que tem acarretado
sérios problemas, principalmente de infraestrutura. Para solucioná-los é
preciso utilizar mecanismos adequados e capazes de promover a superação dos mesmos.
Fala-se que
a cidade cresceu, porém cresceram também os problemas de abastecimento de água,
de iluminação pública, de urbanização, de pavimentação, (apenas 30% das ruas são calçadas), de áreas
verdes, de lazer, de organização de trânsito, de um distrito industrial
produtivo, de maior atenção à zona rural, e de rede de esgoto eficaz, entre
outros. Maiores informações sobre os problemas enfrentados pelo município,
encontram-se no próximo capítulo, na análise das entrevistas realizadas em
Santa Cruz do Capibaribe.
As
dificuldades na área de saúde são sérias, pois não existe um Hospital Regional
para atendimento à população local, aos distritos, aos municípios
circunvizinhos e aos visitantes, que afluem à cidade especialmente nos dias das
feiras e praticamente dobram o número da população, e isto é uma constante,
pois, durante três dias, semanalmente,
acontecem as feiras.
Santa Cruz
do Capibaribe tem desafios reais, imediatos e futuros que não estão
simplesmente voltados para a subsistência humana, ou, em apresentar taxa zero de
desemprego, mas, para uma estrutura organizacional e administrativa eficiente.
Capaz de agregar valor aos produtos, aumentar o número de empresas formais,
propiciar o engajamento das instituições, revitalizar os Conselhos Municipais,
investir maciçamente na educação e principalmente na implantação e
exequibilidade do planejamento estratégico para atender as demandas locais e
promover efetivamente o desenvolvimento
socioeconômico sustentável da
localidade.
3 Análise dos Resultados
A educação
é a área temática de maior importância para este trabalho, pois é a política pública social que perpassa e
interfere em todas as demais políticas, sendo um instrumento fundamental para
todas as abordagens estratégicas, tácitas e operacionais que contribuem para a
efetivação do processo educacional e
pode dar sustentabilidade ao desenvolvimento social e econômico de uma
localidade.
No caso em
estudo, os dados apontam para situações bastante adversas no que diz respeito a
educação. Como se pode ver na tabela 1 abaixo, a taxa de analfabetismo atinge
percentual mais elevado do que a do Estado. O nível de escolaridade, também
apresenta índices muito baixos.
Informações mais
recentes (2011) sobre a matrícula inicial de jovens e adultos encontradas no
portal da BDE;IBGE, divulgam que, em Santa Cruz do Capibaribe, apenas 144 jovens e adultos frequentam o EJA;
101 alunos fazem pré vestibular; 159 cursam o ensino superior e 11
pessoas possuem mestrado e doutorado. Mesmo tendo Escola Técnica e duas (02)
Faculdades locais, o número de pessoas que estudam, está muito aquém do total
da população que se encontra na faixa etária propícia ao estudo.
Outra informação divulgada pela BDE, fonte
IBGE/censo demográfico 2000, é que o número de pessoas com 10 anos ou mais sem
instrução ou menos de 1 ano, é de 7.343 pessoas em Santa Cruz do Capibaribe,
que corresponde a 15,82% do total da população (46.403) em relação ao mesmo
indicador. Indicadores demonstrados na Tabela abaixo.
Tabela 1 - Nível de educação
Indicadores
|
Ano
|
Município
|
Estado
|
Taxa de
Analfabetismo (Pop. De 15 anos ou mais) (% aa).
|
2000
|
25,55
|
24,50
|
Pessoas
com 10 ou mais anos de idade com 1 a 3 anos de estudos (% aa).
|
2000
|
28,28
|
23,44
|
Matrícula
inicial na educação profissional – nível técnico
|
2010
|
112
|
19.839
|
Nº de
pessoas que concluíram a educação profissional
|
-
|
-
|
-
|
Fonte: Base de Dados do
Estado – BDE (www.bde.pe.gov.br); IBGE; PNUD/Ipea/fjp;
INEP, e agência Condepe/Fidem. (acesso
maio 2011)
Outros
aspectos foram também observados no levantamento das informações, quais sejam: INFRAESTRUTURA
FÍSICA - Pode-se observar ao
circular pela cidade, condições muito precárias de saneamento básico, com
tubulações estouradas, ruas sem calçamento, alagações que dificultam o
deslocamento de transeuntes e do trânsito em geral. Dentre os problemas
existentes, a falta da água tem sido um agravante para o município, pois, o
crescimento populacional ultrapassou todas as probabilidades de abastecimento da cidade; ÁGUA - O sistema de
abastecimento de água não flui bem porque a cidade é plana e a tubulação não é
adequada. A maioria dos canos são de 20 mm, quando deveriam ser de 40 mm. Com as chuvas mais fortes elas estouram o
sistema de escoamento, que é muito antigo. Também nos loteamentos novos que
estão surgindo, não tem um sistema de água encanada. pois esse procedimento é
demorado; SANEAMENTO BÁSICO - O saneamento básico é deficiente,
principalmente, nos loteamentos mais novos que têm sido construídos desordenadamente,
dificultando a realização de obras nestes
locais; HABITAÇÃO - Existem
casas bastante luxuosas em alguns bairros e também casas na beira do rio, que
são construções irregulares, dificultando a fiscalização da prefeitura; PAVIMENTAÇÃO
DE RUAS - A pavimentação da cidade encontra-se bastante deficiente (apenas
30% das ruas são calçadas e ficam no centro da cidade), pois, o número de ruas
que nascem na cidade por ano, é impressionante, os engarrafamentos em dias de
feira são um sinal do péssimo trânsito da cidade, devido ao mal planejamento e
as más condições do perímetro urbano; COLETA E TRATAMENTO DO LIXO - É feita através de uma empresa terceirizada,
a Via Lim, que faz a limpeza e o recolhimento do lixo da cidade, em dias
alternados. O lixo é levado para o aterro sanitário, que é tratado por uma
equipe que faz a manutenção, o qual é localizado depois do Moda Center, porém a
manutenção deixa a desejar. Existe um pessoal que faz reciclagem e
também um programa de orientação, são pessoas independentes que fazem a
seleção, e são cadastradas na prefeitura. Formam uma cooperativa; INSTITUIÇÕES
LOCAIS - As instituições locais contatadas, representam setores importantes
para promoção do desenvolvimento local sustentável, pelas suas atribuições institucionais, como por exemplo: a ASCAP
tem uma participação efetiva junto às empresas, dando suporte às demandas por
elas levantadas, oferecendo cursos, promovendo eventos e contribuindo para o conhecimento e divulgação da produção do
município; e a FADIRE contribui na
formação de profissionais para áreas correlatas às potencialidades locais,
atraindo pessoas para uma preparação mais especializada na modalidade de moda,
que tem crescido no Brasil como um todo, e é a tendência principal de Santa
Cruz do Capibaribe. Qunto às empresas, Santa Cruz do Capibaribe possui 12 mil
empresas, a maioria de pequeno porte, algumas de médio e poucas de maior porte.
A média do número de funcionários formais é em torno de 3.000 pessoas, nas
empresas grandes e médias. O número de trabalhadores informais é, em média,
15.000 pessoas.
Esta foi uma visão
abrangente da situação atual do município de Santa Cruz do Capibaribe, que
apresenta situações adversas e conflituosas em relação ao desenvolvimento
socioeconômico. Porém fica bastante evidente que os maiores problemas são
gerados pela inexistência de gestão pública, seja nos órgãos públicos, nas
instituições privadas, como nos setores de produção e comercialização.
Percebe-se, com clareza,
que o fator principal é a deficiência no gerenciamento das políticas públicas
sociais, que configura-se em um crescimento desordenado e desestruturado, para
atender às demandas locais.
Precisa haver uma
dinamização da política de educação para que atue de forma eficaz, eficiente e
efetiva, na mudança conjuntural do município e, assim, desencadear um processo,
propriamente dito, de desenvolvimento socioeconômico.
A educação profissional
tem ajudado no desenvolvimento sustentável do APL de Confecções de Santa Cruz
do Capibaribe, principalmente na disseminação de conhecimentos e na formação de
profissionais, abrangendo diversas competências, entre elas: capacidade de
liderança; de gestão de equipe; de gestão da qualidade; de gestão da produção;
análise de custos; logística; regulamentação e normas; e ainda sobre o uso das
tecnologias da informação e comunicação.
O grande desafio que o
meio educacional possui, é a formação de profissionais com visão sistêmica,
abrangendo as várias atividades de confecções do vestuário, sem necessariamente
se ater ao atendimento das demandas pontuais apresentadas pelas empresas ou
pela população, mas indo um pouco mais além, atuando como indutor de mudanças
na cultura local.
É perceptível que as
empresas que contratam profissionais com qualificação melhoram a qualidade dos
seus processos, e, por conseguinte, obtêm melhorias em seus produtos, nos
resultados operacionais e, consequentemente, na ampliação de sua participação
nos mercados.
Um outro fator importante é que alguns empresários também têm buscado a
qualificação profissional para si, com a intenção de melhorar as suas práticas
de gestão, e, assim, a sustentabilidade dos seus empreendimentos. Tal fator
precisa ser reforçado no intuito de ampliar a visão empresarial, que, hoje, é
“imediatista” ou com foco no curto prazo.
4 Considerações Finais
As indagações que
direcionaram este estudo levaram a destacar alguns pontos para aprofundarmos o
conhecimento, buscando embasamento nas conceituações teóricas de vários
pesquisadores, filósofos e pensadores.
Em um primeiro momento,
para organização do pensamento, destaca-se a importância da educação para o
desenvolvimento, que exige participação, e para participar é necessário ter
conhecimento, para o acesso pleno aos direitos universais e assegurar a
condição de cidadãos críticos, autônomos e protagonistas do presente e do futuro, numa visão
prospectiva de um mundo globalizado onde a cidadania não se limita a um espaço
geográfico, mas ao planeta, pois somos cidadãos do mundo.
Observa-se nitidamente
que, para a educação cumprir seu papel, é
necessária uma mudança de mentalidade
e de procedimentos, a partir da
escola, e quando refere-se à escola, subtende-se o ensino em todos os níveis, a
partir do básico até o ensino superior. Ensino este que não pode ser mais algo
estático, que transmite apenas o
conhecimento formalizado para cumprir uma carga horária e atender uma
grade curricular, muitas vezes defasada, distante da realidade, incapaz de
promover o crescimento do aluno como ser humano, inserido no contexto social, participante
do processo de desenvolvimento nos seus vários aspectos, do qual ele é o agente transformador.
O papel da educação é de
fundamental importância para a implantação de uma nova consciência mundial nas
futuras gerações e para a análise e discussão das questões que constituem
obstáculos à construção de uma sociedade mais justa, ética e próspera.
Continuando esta linha
de organização do pensamento, no segundo momento nos detivemos sobre a
qualificação profissional e as competências, para se entender melhor como se
processa a educação profissional e quais as reais possibilidades de progresso
deste nível de ensino. De que forma pode atender às necessidades de mercado,
quando grandes obras são implementadas e não existe mão de obra especializada
para preencher as funções demandadas, fazendo-se necessário importar mão de
obra de outras localidades.
No Brasil, a formação
profissional enquadra-se dentro desta lógica da qualificação, entendida como preparação de mão de obra
especializada, para fazer frente às demandas técnico-organizativas do mercado
de trabalho formal. Assim o que importa do ponto de vista da formação para o
trabalho, é garantir que os trabalhadores sejam preparados exclusivamente para
desempenhar tarefas/funções específicas e operacionais.
No entanto, esta
concepção reduz a noção de competência, que corresponde à capacidade de agir,
intervir e decidir em situações nem sempre previstas ou previsíveis.
A qualificação de um indivíduo deve refletir
no seu desempenho, no exercício e mobilização de competências adquiridas ou
construídas mediante aprendizagem no
decurso da vida ativa, que apresente atributos do saber fazer, ser, e agir. E,
assim, estar apto para resolver, com propriedade, problemas concretos e muitas
vezes complexos, que surgem no exercício da atividade profissional.
A educação não é
utópica. Ela é, por essência, concreta. Embora possa parecer, às vezes, algo
abstrato, se define por suas realizações objetivas. É um processo exponencial
que se multiplica por si mesma, com sua própria realização. Por esta razão os
desafios a serem enfrentados são grandes e contínuos, principalmente no que se
refere à mudança de mentalidade para acompanhar o que a sociedade requer do
processo educacional como elemento estruturador do desenvolvimento.
Na análise das
entrevistas realizadas e pelo que pôde ser observado no município de Santa Cruz
do Capibaribe, existe um grande problema que tem afetado a maioria dos
municípios, não só do Estado de Pernambuco, mas de todo Nordeste, a questão da
Gestão Pública, que implica a ausência de governança e governabilidade, para
gerir as Administrações Locais.
O desequilíbrio ou
ausência da governança, que se estabelece quando as práticas de
instrumentalizar as estratégias não definem ou organizam a implementação das
políticas públicas, afetam a governabilidade na identificação das necessidades
e anseios sociais para que essas políticas
produzam resultados na sociedade, dando respostas efetivas aos problemas
que pretende enfrentar.
A qualidade da gestão
pública passa pela educação, na capacitação e preparação de gestores e líderes
públicos, para um desempenho eficaz, eficiente e, acima de tudo, efetivo. Os
princípios da qualidade da gestão pública, cujos fundamentos se baseiam na
agilidade, inovação, valorização das pessoas, foco nos resultados, controle
social, processos e informações, gestão participativa e visão do futuro, como
elementos essenciais para o fortalecimento das administrações locais.
Estes princípios
precisam ser trabalhados no município de Santa Cruz do Capibaribe e em muitos
outros, para que se promova o desenvolvimento local sustentável, minimizando
problemas estruturais, conjunturais e operacionais.
Desafios e considerações mais gerais:
-
sensibilizar
os envolvidos no processo educacional a se prepararem melhor para seu
desempenho profissional, para renovação de conceitos e uma visão sistêmica de
mundo e de um futuro próximo e evolutivo, onde é fundamental o posicionamento
do ser, como cidadão participativo, capaz de promover mudanças no seu entorno;
-
mudança
revolucionária e transformadora da educação, no sentido de mudar métodos e
técnicas educacionais, metodologia e grades curriculares, para um ensino
contextualizado na realidade, de modo que os alunos não separem a escola da
vida real, aprendam a dimensão de mundo, e atuem como integrantes deste mundo,
sem limites espaciais;
-
empenho
das autoridades na valorização da educação e dos profissionais responsáveis na
viabilização do processo educacional;
-
investimento
em tecnologia e informação para acompanhar as inovações que se propagam dinamicamente.
-
expansão
de universidades e escolas técnicas, que não representem um ganho quantitativo,
mas, sobretudo, uma oportunidade de melhoria da qualidade e condições de vida
da população, adquirindo conhecimentos
e preparação para sua atuação como
cidadão, voltado não somente para sua individualidade, mas para a coletividade,
para construção e/ou reconstrução de uma sociedade mais igualitária e justa.
Desafios e considerações sobre o
município de Santa Cruz do Capibaribe.
-
Interação
e integração das administrações e instituições acadêmicas e públicas inter municipais;
-
capacitação
dos gestores, líderes e empresários sobre Gestão Pública de Qualidade; bem como melhoria da qualidade da produção.
-
elaboração e implantação de um Plano Diretor e de
Planejamento Estratégico, para o
ordenamento territorial e populacional.
-
Intensificação
da educação de jovens e adultos e melhoria na oferta de cursos
profissionalizantes atendendo as diversas áreas deficitárias.
-
educação
voltada para o meio ambiente, evitando a degradação do rio Capibaribe, com
dejetos e produtos químicos e de outras áreas poluídas. Revitalização do verde
para que a cidade se torne agradável e convidativa.
O tema apresentado é
instigante e este trabalho, assumidamente muito simples, pode ser completado com análises posteriores que visem
o nexo de casualidade entre a educação e
o desenvolvimento, numa interação
positiva cujas dificuldades são
grandes, porém maiores são os ganhos relativos do esforço colocado no
investimento em capital humano, enquanto objetivo de uma política de educação.
É, importante, que não
se considere os pragmatismos que tomavam a realidade como ponto de chegada,
mas, que veja-se a realidade como ponto
de partida para a compreensão dos processos de aquisição do conhecimento por
parte do ser humano.
E finalmente, que não
nos prendamos aos aspectos quantitativos da educação, e, desta forma, nos
desviemos do caráter qualitativo, verdadeiro responsável por mudanças
profundas, nas estruturas de desenvolvimento socioeconômico local e
sustentável.
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