O que coloco na poesia a seguir é um desabafo em relação à situação e, de certa forma, uma homenagem ao nordestino. Povo que sofre, mas mantem a firmeza, atitude e o sorriso. Foi considerado recentemente (em pesquisa divulgada em novembro de 2012) como o "povo mais feliz do Brasil". A hospitalidade, o espírito alegre e a vontade de fazer o bem, apesar de tudo, ajudaram a receber esse "título".
A postagem deveria ter sido no início de 2013, mas ainda há tempo.
Vamos em frente!
Ano Novo, Velha Seca.
Cadê a chuva São Pedro?
(Carmen Lúcia Couto)
Ano Novo
Velho mundo
Sertão brabo...solidão
Velho mundo
Sertão brabo...solidão
Mesmos rostos
Fome, miséria,
solo rachado,
ermo na imensidão.
Cadê a chuva São Pedro?
Acaba com essa seca
Leva embora a tristeza
o calor, as mortes... a fome.
Deixa o homem trabalhar,
plantar e ter um nome.
Cadê a chuva São Pedro?
Tira esse povo do castigo
devolve a esperança
de que o ano novo vem trazendo
fartura, amor e saúde pra criança.
Nordestino é povo alegre,
hospitaleiro e gentil.
Disse, até, uma pesquisa:
é o povo mais feliz do Brasil!
Sofre e sorri,
(alguns nem dentadura tem!)
mas mantem o brilho no olho
e o coração de quem quer bem.
Gente batalhadora e guerreira.
Que mesmo ardendo na estiagem
encontra força, querer e coragem
para prosseguir e viver.
Vendo o bicho no quintal morrer,
o filho adoecer... a mulher padecer.
Alguns acham ânimo pra deixar sua terra
e procurar em outra cidade sobreviver.
Muitos lá fora ficam pra sempre,
deixam viúvas suas Marias
e sem pai, suas crias.
Aqueles que voltam,
trazem a decepção e a certeza
de que um mundo melhor
somente junto aos seus, encontrarão.
Chega então o político.
Candidato a doutor salvador,
que para ganhar o voto
rouba a alma do inocente
por um quilo de arroz
ou um punhado de semente.
Promete também um par de sapatos
e um saco de feijão.
Do sapato entrega o pé direito,
porém o esquerdo só depois da votação.
Perdendo ou ganhando,
o doutor vira as costas
e o inocente, coitado,
fica sem um pé do sapato,
sem a semente na roça e
sem arroz e feijão no prato.
Cadê a chuva São Pedro?
A história da seca é sempre igual.
Quem é o culpado?
O homem, que não sabe conviver com ela?
São Pedro, que chuva não manda?
Ou o doutor salvador, que pega o voto,
o dinheiro do cargo e esquece o eleitor?
o dinheiro do cargo e esquece o eleitor?
Passados quatro anos a mesma situação.
Novas promessas, poucos resultados,
mas o importante é ganhar a eleição!!!
O inocente, coitado,
fica a olhar para o céu.
No desejo... na vontade e no medo.
Não desiste de rezar, de implorar e,
com lágrimas, indagar:
com lágrimas, indagar:
cadê a chuva São Pedro?
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“não tem carranca, nem trator, nem alavanca.
Quero ver quem é que arranca nós aqui desse lugar”
(A Violeira, Chico Buarque)