Leiam mais algumas expressões interessantes da linguagem que
circulam entre nós e que marcam a riqueza histórica de nossa língua.
Hoje publico a quinta parte de uma série de sete. Uma das principais fontes
de pesquisa foi o Site do Prof Nélson
Sartori que resgata os conceitos de revistas
especializadas como
LÍNGUA PORTUGUESA – Ed. SEGMENTO e AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril .
25. “Cabra da peste”
Empregada para designar um indivíduo bom,
confiável e, principalmente, corajoso, essa locução tipicamente nordestina em
nada tem a ver com a coitada da fêmea do bode. Cabra, no Nordeste
brasileiro, é sinônimo de homem.
Assim, é comum na região expressões como
"cabra bom", para se referir a alguém decente, ou "cabra
besta", para alguém considerado um orgulhoso sem razão.
Mas por que "da peste"? A razão
é que epidemias eram um mal muito comum na região no começo do século 20 e,
com a falta de recursos da população, tornavam-se muito perigosas e levavam à
morte.
Dessa forma, quando alguém ficava doente,
todos se afastavam com medo de serem contaminados pelo "cabra da
peste". A expressão acabou, mais tarde, tornando-se sinônimo de alguém
que, por sua valentia, causa medo nas pessoas, a ponto de afastá-Ias. LL.
(AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
26. “Cor de burro quando foge”
Frase é inspirada em ditado
centenário
Várias espécies animais se transformam
quando ameaçadas. O camaleão muda de cor. O polvo solta uma tinta escura que
funciona como camuflagem. Não é esse o caso do burro. Portanto, a frase, muito
usada em todo o Brasil para tratar de uma cor indefinida, não tem explicação no
comportamento do bicho. A resposta mais provável para a origem do termo está em
um registro feito no começo do século 20 pelo gramático Antônio de Castro Lopes
(1827-1901), que documentou o uso popular da construção "corro de burro
quando foge". A repetição provocou uma frase que não faz o menor sentido,
e que mesmo assim ficou consagrada. JUAN TORRES. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed.
Abril)
27. “Onde Judas perdeu as botas”
Lenda sobre o apóstolo deu origem à
expressão
A Bíblia não faz nenhuma referência
às botas de Judas, o apóstolo que, de acordo com os relatos do Novo
Testamento, entregou Jesus Cristo aos guardas romanos em troca de 30
moedas de prata - e depois, arrependido, acabou se enforcando.
Mas, de acordo com uma lenda popular,
Judas escondeu seus calçados junto com o dinheiro, e esse local nunca foi
encontrado. Daí que "onde Judas perdeu as botas" faz referência a um
local difícil de ser encontrado. "Muitas vezes, algumas expressões
idiomáticas ganham corpo baseadas em crenças da religiosidade popular, sem ter
tradição bíblica ou teológica", diz Josias da Costa Júnior, mestre em
Ciências da Religião da Universidade Estadual Paulista (Unesp). J.T. (AVENTURAS
NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
28. “Negócio da China”
Expressão surgiu com as Guerras do Ópio
Não é necessário ter muita imaginação para
pensar no potencial de venda de qualquer lojinha em um país com 1,3 bilhão de
pessoas. É por isso que, tanto hoje como no passado, os grandes países
produtores querem atuar na China. No século 19, esse mercado gigantesco foi
assediado pela Inglaterra, que estava no auge da Revolução Industrial e
precisava de consumidores para seus produtos.
Só que era difícil ter acesso ao
país, que permanecia fechado ao Ocidente. O jeito foi partir para a briga.
Nessa época, aconteceram as Guerras do Ópio, em duas etapas (1839-1842 e
1856-1860). Vitoriosos, os ingleses impuseram o monopólio da comercialização
do ópio com os chineses e ainda ocuparam a ilha de Hong Kong, só devolvida em
1997. Um negócio da China mesmo. JUAN TORRES. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed.
Abril)
29. “Uma andorinha só não faz verão”
Frase vem de livro do filósofo
Aristóteles
Geralmente, as expressões idiomáticas
têm origem popular. Não é este o caso. A primeira menção conhecida ao ditado
está no livro Ética a Nicômano, de Aristóteles (384-322
a.C.). Na obra, o filósofo grego escreve que "uma andorinha só não faz
primavera", no sentido de que um indivíduo não deve ser julgado por um
a.t° isolado.
A escolha da andorinha não é casual.
Na busca por calor, essas aves sempre voam juntas, em grupos de até 200 mil
animais. As maiores aglomerações de andorinhas são vistas nas Américas. Em
outubro, quando começa a esfriar no norte, elas percorrem 8 mil quilômetros
até a América do Sul, de onde voltam em abril. J.T. (AVENTURAS NA HISTÓRIA -
Ed. Abril)
30. “Cair nos braços de Morfeu”
Frase é inspirada no filho do deus grego
do sono
De acordo com a mitologia da Grécia
antiga, Morfeu era um dos mil filhos de Hipno, o deus do sono. Assim como o
pai, era dotado de grandes asas, que o transportavam em poucos instantes, e
silenciosamente, aos pontos mais remotos do planeta.
O nome Morfeu quer dizer "a
forma" e representa o dom desse deus: viajar ao redor da Terra para
assumir feições humanas e, dessa maneira, se apresentar aos adormecidos
durante os seus sonhos. É por isso que se costuma dizer, há vários séculos e
nas mais diversas línguas: quem cai nos braços de Morfeu faz um sono tranquilo
e reconfortante, como se realmente estivesse na companhia dessa divindade.
ÉRICA GEORGINO. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
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