segunda-feira, 12 de novembro de 2018

ECONOMIA CRIATIVA - geração de valor por meio da criatividade


APRESENTAÇÃO

Importante se faz um olhar mais sensível para o segmento da economia criativa na região Nordeste, o eixo da cultura. Atentar para a Cultura como instrumento de inclusão social na região. Não é novidade que o Nordeste é muito rico nesse aspecto e apesar de várias entidades como ONGs, e Sebrae, por exemplo, auxiliarem com atuações nesse segmento, ainda observa-se uma carência muito grande em projetos sustentáveis que venham tornar comunidades artísticas, das mais diversas linguagens, mais capacitadas e com potencial para serem incluídas no mercado, e automaticamente, terem como retorno uma maior renda e reconhecimento artístico e social.
Projetos que visem a melhoria dessa área cultural, valorizando a região, atribuindo a importância e reconhecimento devidos à criatividade do nosso povo, aumentando a renda, gerando emprego, empoderando comunidades e fazendo com que os envolvidos sejam enriquecidos social e culturalmente, devem fazer parte do portfólio das empresas.
O texto aqui apresentado tem como base estatística e de conteúdo, o documento Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil, publicado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) em dezembro de 2016. Esse documento faz um mapeamento nacional e observa-se que nas diversas regiões, incluído o Nordeste, a economia criativa vem empregando pessoas, mostrando que os investimentos e apoios nessa área são primordiais para auxiliar na diminuição do desemprego e no aumento da renda do brasileiro e, consequentemente, elevar a injeção de recursos na economia.


1 ECONOMIA CRIATIVA

            Sabe-se que nesse século, a criatividade torna-se fator primordial para se ter o diferencial no mercado, seja para o profissional, para a empresa ou um produto. Criatividade é uma capacidade não só de criar o novo, mas de reinventar, diluir paradigmas tradicionais, unir pontos aparentemente desconexos e, com isso, equacionar soluções para novos e velhos problemas. Em termos econômicos, a criatividade é um combustível renovável e cujo estoque aumenta com o uso. Além disso, a “concorrência” entre agentes criativos, em vez de saturar o mercado, atrai e estimula a atuação de novos produtores. Essas e outras características fazem da economia criativa uma oportunidade de resgatar o cidadão (inserindo-o socialmente) e o consumidor (incluindo-o economicamente), através de um ativo que emana de sua própria formação, cultura e raízes. (ITAU,2008)

A Economia Criativa ou também chamada de indústria criativa é uma nova forma econômica em ascensão no mundo de hoje. Como o nome indica, diz respeito à geração de valor por meio da criatividade. São bens e serviços baseados no capital intelectual e cultural e que buscam melhorar, inovar ou resolver problemas.

Vender experiências é um dos lemas da Economia Criativa. O setor do varejo é o que tem maior destaque e potencial na área, pois possui mais liberdade para criar diferentes soluções para cada tipo de público. A liberdade é um dos pré-requisitos para que a criatividade venha à tona, possibilitando o desenvolvimento de novos produtos em resposta a demandas ou interesses específicos, com um maior cuidado e atenção aos recursos ambientais (John Howkins).[1]

A Economia Criativa se divide em quatro grandes áreas: CONSUMO, MÍDIAS, CULTURA E TECNOLOGIA. São negócios nos mais variados segmentos que se agrupam nessas categorias e que se identificam com os movimentos e tendências da inovação e da criatividade. São exemplos empresas de desenvolvimento de softwares e videogames, grupos culturais, escritórios de design, artistas plásticos, produtores de artesanato, restaurantes e agências de turismo cultural. Conceitos como venda direta do produtor para o consumidor, valorização da identidade local, produção sob demanda e consumo de bens personalizados são diretrizes que impulsionam o mercado criativo.
As áreas são divididas em 13 segmentos, conforme a seguir:
a)            CONSUMO - Design: gráfico, multimídia e de móveis; - Arquitetura; - Publicidade: com atividades relacionadas às áreas de marketing, pesquisa de mercado e organização de eventos; e - Moda: com desenho de roupas, acessórios e calçados; além de modelistas.
b) MÍDIAS - Editorial: edição de livros, jornais, revistas e conteúdo digital; e - Audiovisual: desenvolvimento de conteúdo, distribuição, programação e transmissão.
c) CULTURA - é a área mais ampla, e atua com - Expressões Culturais: artesanato, folclore, gastronomia; - Patrimônio e Artes: serviços culturais, museologia, produção cultural, patrimônio histórico; - Música: gravação, edição e mixagem de som, criação e interpretação musical; e - Artes Cênicas: atuação, produção e direção de espetáculos teatrais e de dança.
d) TECNOLOGIA - Pesquisa e Desenvolvimento (P&D): desenvolvimento experimental e pesquisa geral (exceto biologia); - Biotecnologia: bioengenharia, pesquisa em biologia, atividades laboratoriais; e - Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC): desenvolvimento de softwares, sistemas, consultoria em TI e robótica.

ONU publica desde 2008 alguns relatórios sobre o tema. O Relatório de Economia Criativa 2010, produzido pela UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) em parceria com o PNUD, destaca que “a Economia Criativa se tornou uma questão atual da agenda econômica e de desenvolvimento internacional durante esta década. Estimulada de forma adequada, a criatividade incentiva a cultura, infunde um desenvolvimento centrado no ser humano e constitui o ingrediente chave para a criação de trabalho, inovação e comércio, ao mesmo tempo em que contribui para a inclusão social, diversidade cultural e sustentabilidade ambiental.” O relatório enfatiza ainda que o setor foi um dos menos afetados pela crise econômica mundial, pois se baseia em novos preceitos, adotando relações de trabalho mais igualitárias e políticas de consumo mais justas, sustentáveis e inclusivas.
As pequenas e médias empresas são a maioria nesse setor, embora algumas grandes companhias já adotem práticas como liberar uma porcentagem do tempo do trabalhador para ser dedicada a projetos de inovação. Os bens e serviços comercializados, em geral, tem um valor intangível, baseado na venda de experiências, o que propõe aos consumidores uma nova relação com os produtos. A ideia é consumir menos para consumir melhor, seja conhecendo as pessoas de quem você compra ou incentivando negócios sustentáveis e com preocupação ambiental.

2 ECONOMIA CRIATIVA EM NÚMEROS (alguns destaques em relação à análise realizada pela FIRJAN).

De acordo com o documento Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil, publicado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) em dezembro de 2016, sob a ótica da produção, a área criativa se mostrou menos impactada ante o cenário econômico adverso do período 2013-2015, quando comparada à totalidade da economia nacional: a participação do PIB Criativo estimado no PIB Brasileiro cresceu de 2,56% para 2,64%.21, como resultado, a área criativa gerou uma riqueza de R$ 155,6 bilhões para a economia brasileira no último ano, valor equivalente à soma dos valores de mercado das marcas Facebook, Zara e L' Oréal32 reunidas.  (Para conversão de valores, foi utilizado o dólar médio de 2015. Logo, R$ 156 bilhões equivalem aproximadamente a US$ 47 bilhões)
Sob a ótica do mercado formal de trabalho, a Indústria Criativa era composta por 851,2 mil profissionais formais em 2015. Na comparação com 2013, os criativos cresceram 0,1%, variação relevante diante do encerramento de quase 900 mil postos de trabalho no total do mercado de trabalho (-1,8%). Como consequência, no período adverso, os profissionais criativos aumentaram sua participação no mercado de trabalho (1,8% em 2015 ante 1,7% em 2013), o que reforça o papel estratégico da classe criativa na atividade produtiva.
Todas as unidades federativas tiveram remuneração dos trabalhadores criativos superior à média do mercado de trabalho brasileiro em 2015, o que confirma a valorização desses profissionais na economia. A diferença entre a remuneração média brasileira (R$ 2.451) e a remuneração da classe criativa variou de 40% a mais no Ceará (R$ 3.424) a 300% a mais no Rio de Janeiro (R$ 9.826).

No âmbito estadual, São Paulo e Rio de Janeiro concentram não apenas o maior número de trabalhadores como também os mais bem remunerados da área de Cultura no país. Em São Paulo estavam registrados 20,4 mil trabalhadores em 2015 (+6,0%, em relação a 2013), com remuneração média de R$ 3.525 (-0,6% no mesmo período), ao passo que no Rio de Janeiro são 8,1 mil trabalhadores (+8,6%) com remuneração média mais elevada (R$ 4.927), ainda que tenha ocorrido forte recuo em termos reais (-9,2%). Em termos relativos, Paraíba (17,1%) e Alagoas (16,2%) têm participações da Cultura maiores do que duas vezes a representação média nacional (7,8%).

Em comparação com 2013, os maiores aumentos reais de salário ocorreram justamente nos segmentos que apresentaram menor remuneração: Música (+9,6%), Expressões Culturais (+4,3%), Moda (+3,7%) e Audiovisual (+0,8%) – fato que aponta para a redução da desigualdade da renda entre os segmentos criativos.

Enquanto o rendimento médio mensal do trabalhador brasileiro foi de R$ 2.451 em 2015, o dos profissionais criativos atingiu R$ 6.270. Mesmo com pequeno recuo em relação ao observado em 2013, os trabalhadores criativos continuaram recebendo vencimentos pouco mais de duas vezes e meia superiores aos empregados formais brasileiros. Inclusive, todas as quatro áreas criativas apresentaram remuneração acima da média dos trabalhadores formais do Brasil. Essa remuneração mais elevada tem relação direta com o nível de qualificação e a especificidade do trabalho criativo. A Indústria Criativa demanda trabalhadores com grau de formação e especialização cada vez mais elevado. Criativos gostam de desafios e são remunerados por isso.

3 PROFISSÕES CRIATIVAS QUE MAIS CONTRATARAM NO PERÍODO         

 Apesar do cenário econômico adverso presente no Brasil no período de 2013 a 2015, determinados profissionais se destacaram por terem sido muito procurados pelo mercado. Entre as profissões criativas que mais cresceram no período, algumas estão diretamente relacionadas à agregação de valor e valorização da experiência do consumidor: analista de mercado (+5.959), chefe de cozinha (+4.060), visual merchandiser (+1.751), analista de negócios (+1.561) e designer de moda (+865). Juntas, tais profissões geraram mais de 14 mil novos postos de trabalho, número ainda mais eloquente diante do cenário de encerramento de quase 900 mil postos no total do mercado de trabalho e que reafirma a tendência de olhar para o consumidor como ainda mais estratégica em momento de crise. A tecnologia da informação e comunicação (TIC) – com o aumento de 4.626 postos de gerentes, 2.057 de programadores e 976 de engenheiros – também reforça seu importante papel na geração de novos produtos e ampliação do conhecimento do consumidor.

Destaque, ainda, para o segmento de Biotecnologia, com o acréscimo de 2.654 vagas para biomédicos, decorrente da tendência de aproveitamento de riquezas do Brasil. 

Segundo o estudo, mais uma vez, houve crescimento da renda acima do resultado total do mercado de trabalho brasileiro nos segmentos de Moda, Música, Expressões Culturais, Audiovisual e TIC. Com isso, manteve-se a tendência de redução da desigualdade da renda do trabalho entre os segmentos criativos observada em mapeamentos anteriores. Este movimento justifica-se tanto pela própria formalização do trabalho nesses segmentos como pelo progressivo aumento da exigência de profissionais mais qualificados.

Concluo reforçando que a um dos vetores da inclusão social no Nordeste, passa pelo Cultura, na Economia Criativa. Nossas manifestações culturais são ricas e variadas. Porém, nem sempre são valorizadas como disseminadoras de saberes importantes ou como fonte de renda. No caso de cultura popular, por exemplo, há um certo descrédito quanto a sua contribuição social e econômica. Reforçar economicamente grupos culturais, microempresas criativas, interiorizar recursos, inserir mais e mais os nossos temas nas escolas, promover eventos culturais e incluir comunidades, deveriam ser temas prioritários nas agendas dos governos  e empresas que se dizem responsáveis socialmente. 

Imagem Fonte: https://deolhonacarreira.com/2016/06/17/projetos-inovadores-de-economia-criativa-fazem-sucesso-no-mercado/

[1] *Fonte: Bens e serviços de valor intangível são o foco da economia criativa, que se baseia na venda de experiências*, disponível em - https://www.ecycle.com.br/economia-criativa-sebrae-john-howkins-unctad.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário é muito importante. Obrigada!